Diagnóstico de ectima contagioso em pequenos ruminantes através da Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real

Revista Agrária Acadêmica

Agrarian Academic Journal

doi: 10.32406/v4n5/2021/4-11/agrariacad

 

Diagnóstico de ectima contagioso em pequenos ruminantes através da Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real. Diagnosis of contagious ecthyma in small ruminants through the Real Time Polymerase Chain Reaction.

 

Rosana  Léo  de  Santana1

 

1- Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, UFRPE, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos CEP.: 52.171.900 – Recife-PE. E-mail: rosanaleosantana@gmail.com

 

Resumo

O vírus do ectima contagioso (ECV), também conhecido como orf vírus (ORFV), é o  agente  etiológico  do  ectima  contagioso  (EC)  dos  ovinos  e  caprinos,  e  pertence  ao  gênero Parapoxvírus, da   família Poxviridae.   Em   certos   casos,   o   EC   pode   ser   confundido   com enfermidades vesiculares, havendo assim, a necessidade de sua diferenciação, sobretudo porque, segundo as normas do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA), os caprinos e  ovinos  não  são  vacinados  contra  a  Febre  Aftosa  (FA),  atuando  como  animais  sentinelas. Embora  estudos  iniciais  tenham  demonstrado  a  utilidade  da  reação  em  cadeia  de  polimerase (PCR) como teste diagnóstico, ainda não há estudos sobre sua utilização envolvendo amostras de campo brasileiras, que podem ser geneticamente diferentes das já estudadas. Este  trabalho  foi  conduzido  com  o  objetivo  de  padronizar  uma PCR  em  tempo  real  (qPCR) utilizando  o  corante  SYBR  Green  I  para  diagnóstico  molecular  de  EC diretamente  a partir  de DNA  extraído  de  lesões  do  animal  afetado  ou  de  cultivo  celular  inoculado  com  amostras  de campo. Os  produtos  da  qPCR  foram  detectados  com  a  análise  da  curva  de  dissociação  que mostrou  um pico  a 88 ºC,  indicativo  de  que  as  amostras  positivas  têm  apenas  um  produto  de amplificação  específico. Todas  as  amostras  de  DNA  testadas  (crostas  de  29  animais  e  seus respectivos  cultivos  celulares)  foram positivas  na  qPCR.  A  qPCR  foi  capaz  de  detectar  o  DNA até, no mínimo, a diluição de 10.000 vezes, correspondendo a 0,056 ng do DNA. Acredita-se que com  as  adicionais  validações  a  qPCR  relatada  neste  trabalho  poderá  ser  empregada  para  o diagnóstico diferencial nas ações de vigilância sanitária do PNEFA.

Palavras-chave: Parapoxvírus. qPCR. Vírus ORF.

 

Abstract

The  virus  of  contagious  ecthyma  (CEV),  also  known  as  orf  virus  (ORFV)  is  the etiological agent of contagious ecthyma (CE) in sheep and goat and belongs to the Parapoxvirus genus, family Poxviridae. In some cases, CE can be confused with vesicular diseases so there is need  for  differentiation especially  because,  according  to  the  standards  of  the  National  Program for  the  Eradication  of  FMD  (PNEFA),  goats  and  sheep are  not  vaccinated  against  Foot  and Mouth  Disease  (FMD),  acting  as  sentinel  animals.    Although  initial  studies  have  demonstrated the  usefulness  of  the  polymerase  chain  reaction  (PCR)  as  a  diagnostic  test,  there  are  no  studies involving  its  use  on  Brazilian  field  samples,  which  may  be  genetically  distinct  from  previously studied  samples,  as  described  in  a  study  of  restriction  sites analysis  of  Brazilian CE samples. This work  was  conducted  with  the  goal  of standardizing  a  PCR  (qPCR)  test  using SYBR  Green  I  dye  for molecular  diagnosis  of  EC  in  DNA  extracted  from  lesions  of affected animal  or  cell  culture  inoculated  in  field  samples.  The  products  were  detected  with  qPCR dissociation curve analysis which showed a peak at 88 ºC indicating that positive samples have only one specific amplification product. All DNA samples tested (29 animals crusts and their cell cultures)  were  positive  in  the  qPCR.  The  qPCR  was  able  to  detect  the  DNA  of at  least  10,000 times  dilution  corresponding  to  0.056  ng  of  DNA.  It  is  believed  that  with  the  additional  qPCR validations reported  in  this  study,  it can  be  used  for  differential  diagnosis  in  the  health surveillance of PNEFA.

Keywords: Parapoxvírus. qPCR. Orf virus.

 

 

Introdução

 

Ectima contagioso (EC), também conhecido como ORF, é uma virose aguda que acomete caprinos  e  ovinos,  amplamente  disseminada  em  todo  mundo,  inclusive  no  Brasil, onde foi descrito   pela   primeira   vez   em   São   Paulo   (GUIMARÃES,   1939)   e,   posteriormente,   em Pernambuco (TORRES, 1943) e Rio Grande do Sul (GUERREIRO, 1954). Tem sido descrito no Ceará (ARITA et al., 1986), Minas Gerais, Rio de Janeiro (MAZUR e MACHADO, 1990), Rio Grande  do  Sul  (SALLES  et  al.,  1992),  São  Paulo  (LANGONI  et  al.,  1995;  CARTROXO  et  al., 2002), Pernambuco (OLIVEIRA et al., 1998) e Mato Grosso (ABRAHÃO et al., 2009). A doença pode  ainda  afetar  o  homem,  sendo  considerada  uma  doença  de  interesse  à  saúde  pública (BARRAVIEIRA et al., 2005; NANDI et al., 2011).

O vírus do ectima contagioso (ECV) pertence à família Poxviridae, gênero Parapoxvírus, estreitamente   relacionado   aos   vírus   da   estomatite   papular   bovina, pseudocowpox vírus   e parapoxvírus da  corça  vermelha na Nova  Zelândia  (PVNZ)  (NANDI  et  al.,  2011).  O  vírus  é epiteliotrópico e  altamente resistente às  condições  ambientais,  geralmente  adversas  para  a maioria dos vírus, como o ressecamento (PASTORET e BROCHIER, 1990). A mutação do vírus e como isso poderia afetar a saúde pública não é conhecida (CÁRDENAS, 2020).

A cepa mais estudada sob o ponto de vista molecular é a NZ2, isolada na Nova Zelândia. O genoma  apresenta  de  139  a  160  quilo pares  de  base  (kpb) e  é estreitamente  relacionado  ao genoma de outros poxvírus (DELHON et al., 2004). A organização do genoma do ECV exibe o padrão geral de outros poxvírus, consistindo em uma região central, que contém genes essenciais e conservados, e   terminais,   que   contém   genes   geralmente relacionados   à virulência   e à patogênese  (NANDI  et  al.,  2011). O  gene  B2L é  conservado, compreende  cerca  de  1.206  pb, codifica  uma  proteína  do  envelope  viral  de  42  kDa  e  está  situado  na  região  central  do  genoma, sendo  o mais  usado  para  detecção  de  ECV pela  reação  em  cadeia  da  polimerase (PCR)  em amostras clínicas, devido sua alta conservação entre as espécies (INOSHIMA et al., 2000).

A PCR é  reconhecida  como  um  método  de  diagnóstico  molecular  estável,  rápido  e sensível para a detecção de ácidos nucléicos e pode ser utilizada mesmo quando a disponibilidade de  amostra  é  pequena.  A  PCR  identifica  animais  verdadeiramente  infectados  e  não  apenas soropositivos  (NITSCHE et  al., 2006). Ensaios  de diluição seriada e  de  placa já foram bastante utilizadas para quantificar o vírus. Porém são demorados e trabalhosos e, geralmente, não podem ser  usados para amostras de  campo  de ECV que  não se  adaptaram  ao crescimento in  vitro. Portanto, a PCR convencional baseada na amplificação de parte do gene B2L (SULLIVAN et al., 1994) foi desenvolvida para detectar as espécies de parapoxvírus conhecidas e, em conjunto com o sequenciamento de DNA, podem ser utilizadas para diferenciação das espécies (INOSHIMA et al.,  2000). Diferentes  protocolos  de  PCR  convencional  foram  desenvolvidos  para  diagnóstico rápido de infecções por  ECV (TORFASON  et al., 2002; ABRAHÃO  et  al., 2009,  INOSHIMA et  al.,  2000). Atualmente,  além  dos  usos  da  PCR  convencional, a PCR  em  tempo  real (qPCR) tem-se revelado precisa e eficiente  para  quantificação  de  DNA,  permitindo  estabelecer sua correlação com  o  título  viral,  inclusive  do ECV,  mesmo  de  amostras  de  campo  que  não  se repliquem in vitro (GALLINA et al., 2006). As qPCRs desenvolvidas para detecção do DNA do ECV usam sondas específica  para região mais interna do gene B2L (NITSCHE et al., 2006; GALLINA   et   al.,   2006;   BANKOWSKI   et   al.,   2004). Embora   estudos   iniciais   tenham demonstrado  sua  utilidade  como  teste  de  diagnóstico,  ainda  não  há  estudos  sobre sua  utilização envolvendo  amostras  brasileiras,  que  podem  ser  geneticamente  diferentes  das  já  estudadas, conforme previamente descrito em um estudo com análise de restrição.

O   controle   da   enfermidade se   fundamenta, principalmente,  na  vacinação  dos  animais  em  áreas  endêmicas (HONORATO et al., 2018); porém, dentre os entraves tecnológicos para a produção de vacinas, destaca-se a dificuldade de replicação do vírus em cultivo celular (SANTANA, 2019) e estudos in  vitro utilizando  amostras  de  ECV  têm  sido realizados, entre elas, células  de  córnea  fetal  caprina (SANTANA, 2021).

Baseado no exposto, este trabalho foi conduzido com o objetivo de padronizar uma qPCR utilizando  o  corante  SYBR  Green I  para  diagnóstico  molecular  de  EC  em  amostras  clínicas  e isoladas em culturas de células.

 

Material e métodos

 

Amostras

 

Foram  utilizadas amostras  de  DNA  extraídas  de crostas  de  22  ovinos  e  de  sete  caprinos com sintomatologia  clínica  de  EC,  originários  dos  Estados  de  Pernambuco,  Paraíba,  Bahia  e Sergipe,  bem  como  de  cultivos  de  células  CorFC  inoculadas  com essas  amostras. A quantidade de  DNA  nas  amostras  foi determinada por  espectrofotometria,  de  acordo  com  as  instruções  do fabricante (Qubit Fluorometrer; Life Tecnologies, USA).

 

Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (qPCR)

 

Para a realização da qPCR foram utilizados os primers PPP-3 (5’-gcg agt cc gaga aga ata cg-3’) e PPP-4 (5’-tac  gtg  gga  agc  gcc  tcg  ct-3’), denominados pan-parapoxvírus,  descritos  por Inoshima et al. (2000), que amplificam um fragmento de 235 pb do gene B2L do ECV.

A  reação  qPCR  foi  realizada  no  termociclador  em  tempo  real – Line-Gene K-software (Hangzhou Bioer Technology Co., Ltd-China) utilizando o corante SYBR Green I, inespecífico que se liga a  qualquer  DNA  dupla  fita  (e  ROX  como  referência  passiva).  Os  produtos  da  qPCR  foram detectados  com  a  análise  da  curva  de dissociação,  realizada  posteriormente à corrida  da  PCR, aumentando a temperatura lentamente 60-95 ºC (0,5C/s) e através da medição da fluorescência de forma contínua. A  Line-Gene K-software FQD-48 foi utilizada para a análise e interpretação dos  resultados.  A  reação  incluiu  2 L  do  DNA  extraído,  primers  PPP3 –PPP4  (10  pmols  de cada),  12,5 L  Quantifast  SYBR  Green  Master  Mix  (Qiagen,  Alemanha),  água  adicionada para um volume final de 25 L.

Foram   testadas   algumas   condições   de   ciclagem,   onde   diferentes   temperaturas   de anelamento, número de ciclos e tempo de extensão foram modificados. Após experimentação, os melhores  resultados  foram  obtidos  com  a  PCR  realizada  nas  seguintes  condições  de  ciclagem: uma etapa de desnaturação inicial a 95 ºC por 5 min, seguido por 35 ciclos de amplificação  (95 ºC  por  10 s  e  60 ºC por  30  s). Controles sem  o  DNA  alvo (no  template  control – NTC)  foram incluídos em cada PCR, para detectar resultados falso-positivos devido à contaminação. Todos os ensaios foram realizados em duplicatas.

 

Sensibilidade e especificidade analíticas da qPCR

 

A sensibilidade analítica da qPCR foi determinada com base  em uma curva de detecção, onde foram realizadas diluições seriadas (1:10, 1:100, 1:1.000, e 1:10.000) em duplicata, a partir de uma concentração inicial do DNA de 560 ng a partir da amostra BrSE1.01 considerada como controle  positivo.  A  especificidade  analítica  foi  avaliada  com  base  no  sequenciamento  do fragmento  de  DNA  de  235  pb  correspondente  ao  gene  B2L  do  ECV  de  26  amostras utilizando ABI 3100 (Applied Biosystems, EUA).

 

Resultados e discussão

 

Foi proposto aperfeiçoar uma qPCR para diagnosticar ECV diretamente a partir de DNA extraído de lesões do animal afetado ou de cultivo celular inoculado com amostras de campo. Os produtos  da  qPCR  foram  detectados  com  a  análise  da  curva  de dissociação.  Uma  vez  que  foi usado  SYBR  Green  I  como  corante  intercalante  de  DNA, a análise  da  curva  de  dissociação  é essencial para determinar a especificidade dos resultados. A presença de  pico a 88 ºC no gráfico mostra que as amostras positivas tem apenas um produto de amplificação específico (figura 1), e controles negativos não tem nenhum produto.

 

Figura 1. Curva de sensibilidade (ou detecção) utilizando diluições seriadas (1:10, 1:100, 1:1000, 1:10.000) com concentração inicial do ECV de 560 ng da amostra BrSE1.0, em duplicata.

 

Todas  as  amostras  de  DNA testadas  (crostas  de  29  animais  e  seus  respectivos  cultivos celulares) foram positivas na qPCR, com base na curva de dissociação. Na Figura 2A observa-se o  resultado  obtido  para  a  curva  de dissociação das  amostras  dos  Estados  de  Sergipe,  Bahia  e Paraíba;  Estado  de  Pernambuco  (Figura 2B  e  2C), onde  observa-se  o pico  gerado  entre  as temperaturas  de 88 ºC resultado  da amplificação  de  produto  específico  para ECV  e  controle negativo (NTC)  sem  amplificação  de  produtos. Essas  amostras foram  testadas  previamente utilizando-se uma PCR convencional adaptada de Inoshima et al. (2000) e apresentaram resultado positivo.

 

Figura 2. Curva de dissociação. (A) Amostras positivas com produto de amplificação específico para  ECV  dos Estados  de  Sergipe  (BrSE1.01,  BrSE1.02,  BrSE1.03,  BrSE2.01,  BrSE2.02); Paraíba  (BrPB  1.01,  BrPB1.02,  BrPB  1.03,  BrPB  1.04)  e  Bahia  (BrBA  1.01,  BrBA  1.02)  e controle negativo. (B) Amostras positivas com produtos de amplificação específico para ECV do Estado de Pernambuco (BrPE1.01, BrPE3.01, BrPE3.02, BrPE4, BrPE2.01, BrPE2.02, BrPE2.03, BrPE2.04,  BrPE2.05,  BrPE2.06)  e  controle  negativo. (C) Amostras  positivas  com  produtos  de amplificação  específico  para  ECV do  Estado  de Pernambuco (BrPE2.12,  BrPE2.13,  BrPE2.14, BrPE1.02, BrPE2.10, BrPE2.11, BrPE2.07, BrPE2.08, BrPE2.09, BrPE5) e controle negativo.

 

Existem  alguns  estudos utilizando a qPCR para  a  detecção  de ECV e Parapoxvírus (GALLINA et al.,  2006; NITSCHE et al.,  2006)  utilizando  sondas  específicas  para  o  vírus.  Nossos resultados  são os  primeiros  a utilizar o  corante SYBR Green I  ao  invés  de sondas. O SYBR Green  I  é  a  alternativa  mais  viável  para  o  diagnóstico  de  amostras  de  campo  em  larga  escala, sendo  por  isso,  o  produto  selecionado para  realização  do  presente  estudo,  o  que  torna  o diagnóstico por qPCR economicamente viável. Adicionalmente, a qPCR oferece várias vantagens em  relação  à  PCR  tradicional,  por  se  tratar  de  um  sistema  fechado,  no  qual  a  amplificação  de DNA é  realizada  e detectada em um único tubo  que permanece fechados durante  a execução de todo   o   processo,   evitando   processamento   pós-amplificação,   como   a   eletroforese   em   gel, diminuindo o risco de contaminação (GOMES et al., 2006).

A figura  1 apresenta  a  curva  de  sensibilidade analítica da  qPCR,  onde  foram  realizadas diluições  seriadas do  DNA  de  uma  amostra. A qPCR foi  capaz  de  detectar  o  DNA  até, no mínimo,  a  diluição  de  10.000  vezes,  correspondendo a  0,056 ng  do  DNA. A  análise  das sequências  demonstrou  similaridade  de 93% com a  sequência de  referência AY386263.1  e  de 99%  entre si,  o  que  confirma  a  alta  especificidade  analítica  da  qPCR.  Para  se  validar  um  teste diagnóstico,   além   da   sensibilidade   e   da   especificidade   analíticas,   deve-se   determinar   a sensibilidade e a especificidade diagnósticas, com base em testes de um número significativo de animais  da  população  onde  o  teste  será  aplicado  (OIE  Terrestrial  Manual,  2021).  A  qPCR apresentou  resultado  positivo  em  todas  as  amostras  processadas  a  partir  das  crostas  de  animais clinicamente afetados, o que sugere ser um teste altamente sensível. Para definitiva validação da qPCR  é  necessário  testar  maior  número  de  amostras  de  animais  afetados  e  de  animais  de rebanhos livres de EC.

Para o diagnóstico  de parapoxvírus exames  sorológicos  ou  moleculares  podem  ser utilizados. Existem limitações nos testes sorológicos, pois se trata de uma doença geralmente de evolução  aguda  e devido  ao  fato  de  que  membros  do  gênero parapoxvírus são  intimamente relacionados  antigenicamente  e,  muitas  vezes,  estes  ensaios  sorológicos  não  são  eficazes  para detecção de qual agente etiológico está causando a dermatite nos animais (NANDI et al., 2011).

Segundo as normas do PNEFA (2017) caprinos e ovinos não devem ser vacinados contra  a  Febre  Aftosa,  permanecendo  como  animais  sentinela.  Essa  condição  é  essencial  para  a realização  dos  inquéritos  sorológicos  durante  os  processos de  certificação  pela  OIE,  bem  como para  detecção  de  circulação  viral  nos  casos  de  introdução  do  vírus  da  Febre  Aftosa  em  uma determinada região. Nesses casos deve-se dispor de um teste rápido e direto de diagnóstico, que possa ser empregado em certa escala, como a qPCR. EC é uma doença que pode ser confundida com  as  enfermidades  vesiculares,  como  a  Febre  Aftosa. Acredita-se  que  com  as  adicionais validações  a  qPCR  relatada  neste  trabalho  poderá  ser  empregada  para  o  diagnóstico  diferencial nas ações de vigilância sanitária do PNEFA.

 

Conclusões

 

O aperfeiçoamento da técnica de Reação em Cadeia da Polimerase  em Tempo Real para fins de diagnóstico de campo indicou ser um método eficiente para confirmação de infecção por ECV em amostras clínicas, demonstrando a presença de cepas de ECV circulando nos Estados de PE, SE, BA e PB. E que nossos atuais resultados são pioneiros em utilizar o corante SYBR Green I ao  invés  de  sondas  específicas,  proporcionando  teste  diagnóstico  menos  oneroso  para  os laboratórios  veterinários,  uma  vez  que  o  corante  SYBR  Green  I  apresenta  um  custo  cerca  de três vezes  menor  que o  das  sondas  específicas,  viabilizando  assim  o  uso  desta  técnica  para  fins diagnósticos.

 

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Recebido em 28 de março de 2021

Retornado para ajustes em 30 de maio de 2021

Recebido com ajustes em 2 de agosto de 2021

Aceito em 31 de agosto de 2021