Revista Agrária Acadêmica
doi: 10.32406/v5n3/2022/16-24/agrariacad
Uso de homeopatias para tratamento de estereotipias em equinos – revisão de literatura. Use of homeopathies to treat stereotypes in horses – literature review.
Ana Luíza Bernardes Pavan1, Vitor Foroni Casas
2, Gabriela Oliveira Lamarca da Silva
1, Mariana Melo Ferreira Arantes1, Mazurquiedisk Nunes Rosa Júnior
1
1- Médico (a) Veterinário (a) – Universidade de Franca – UNIFRAN, Campus Franca – SP. E-mail: ana.luizabernardes@hotmail.com
2- Docente do curso de Medicina Veterinária – Universidade de Franca – UNIFRAN, Campus Franca – SP.
Resumo
Os equinos de vida livre apresentam um padrão comportamental específico da espécie, entretanto com a urbanização e o êxodo rural, surgiu a necessidade de manter estes animais confinados próximos ao homem. O hábito de mantê-los presos é prejudicial ao bem-estar, gerando a possibilidade de desenvolverem mudanças comportamentais denominadas estereotipias. Além de desvalorizarem o animal, estes comportamentos trazem danos a saúde. Sabe-se que o enriquecimento ambiental e mudanças no manejo dos equinos estabulados, em alguns casos não são suficientes para proporcionarem a interrupção das estereotipias quando já estabelecidas pelos animais. Desta forma, o uso da homeopatia pode ser uma alternativa como forma de tratamento para animais com transtornos comportamentais obsessivos compulsivos. Para o tratamento é necessário avaliar a individualidade de cada animal, desta forma é prescrito o medicamento exato que seja compatível com os sinais específicos, para eu os resultados sejam satisfatórios.
Palavras-chave: Comportamento. Bem-estar. Transtorno Obsessivo Compulsivo. Individualidade.
Abstract
Free-ranging equines have a species-specific behavioral pattern, however with urbanization and rural exodus, the need to keep these animals confined close to humans arose. The habit of keeping them imprisoned is harmful to their well-being, generating the possibility of developing behavioral changes called stereotypies. In addition to devaluing the animal, these behaviors bring harm to health. It is known that environmental enrichment and changes in the management of stabled horses, in some cases, are not enough to provide the interruption of stereotypies when already established by the animals. In this way, the use of homeopathy can be an alternative as a form of treatment for animals with obsessive compulsive behavioral disorders. For the treatment, it is necessary to assess the individuality of each animal, in this way the exact medication that is compatible with the specific signs is prescribed, so that the results are satisfactory.
Keywords: Behavior. Well-being. Obsessive-compulsive disorder. Individuality.
Introdução
Os cavalos de vida livre naturalmente vivem em bandos a procura de água e alimentos, no entanto quando estabulados, a liberdade é restrita ou mesmo ausente, provocando carência referente a contato com outros animais e vida social, fatores necessários para a diminuição do estresse e angústia, sendo estes sentimentos favoráveis ao desenvolvimento de mudanças comportamentais (REZENDE et al., 2006).
Estas alterações comportamentais, denominadas estereotipias, são diagnosticadas quando se tornam um hábito do animal e que tal comportamento não apresenta nenhuma serventia (MACHADO, 2011). A palavra vício para a denominação destes comportamentos é discutível, uma vez que “vício” é utilizado para ações feitas de forma consciente e estes comportamentos são desenvolvidos por erros de manejo, sugerindo a substituição para estereótipo (VIEIRA, 2006; VIEIRA, 2015).
As estereotipias não oferecem ao animal nenhum benefício, a valer que estes comportamentos podem causar prejuízos para a saúde, uma vez que geram gastos de energia além de outras alterações (MACHADO, 2011). Além de malefícios relacionados à saúde, existe também a desvalorização dos animais que apresentam estes comportamentos (KONIECZNIAK et al., 2014).
Para os animais que são habitualmente mantidos em baias, despojados de convívio social e liberdade, é esperado o desenvolvimento de alguma estereotipia (CAVASSIN et al., 2015). Métodos físicos podem ser utilizados para o tratamento das estereotipias como o uso de choque sob superfícies, colares rentes ao pescoço tornando o hábito desconfortável, retirar superfícies que podem ser utilizadas para estes comportamentos e até mesmo cirurgia (KONIECZNIAK et al., 2014).
A medicina homeopática, desenvolvida por Hahnemann, primeiramente foi utilizada apenas para tratamento em humanos, porém hoje é evidenciado e comprovado sua eficiência em várias espécies animais (SOUZA, 2002). A definição de medicamento homeopático é qualquer forma farmacêutica de divisão administrada de acordo com a lei dos semelhantes, com intuito de prevenir ou curar (FARMACOPEIA HOMEOPÁTICA BRASILEIRA, 2011).
Cada um dos animais possuem uma forma individual de desenvolvimento de uma doença, sendo assim, para a mesma enfermidade, o desenvolvimento é variável (GIORDANO, 2018). Segundo Souza (2002), os equinos apresentam uma boa resposta à tratamentos homeopáticos.
O objetivo deste trabalho foi buscar bibliografias referentes à administração de homeopatias para tratamento veterinário, especificadamente para estereotipias em equinos.
Material e método
A base de pesquisa para a formação do trabalho foi o Google Acadêmico e o Scielo. A pesquisa foi realizada através de pesquisas pelos termos estereotipias, equinos, homeopatia, tratamento para estereotipias, homeopatia veterinária. O período de pesquisa foi do ano de 2020 a 2021. A escolha dos artigos foi feita de acordo com a relevância para a pesquisa.
Desenvolvimento
O padrão comportamental característico para a espécie equina vem de sua vida selvagem, todavia de acordo com a evolução social e domesticação dos animais, ocorreram adaptações nestes comportamentos (TADICH; ARAYA, 2010). A domesticação dos equinos obrigou a eles mudanças comportamentais, mas ainda são necessárias interações entre eles e de um ambiente adequado para que possam pastar (STEINER; ALBERTON; MARTINS, 2013).
Dificuldades referentes a estas adaptações que foram impostas a eles, com a mudança de livres para estabulados, pode ser considerada uma das causas no desenvolvimento das estereotipias. Animais que não são estimulados diariamente ou que são restritos à atividades físicas também possuem grande probabilidade de desenvolverem as estereotipias (KONIECZNIAK et al., 2014). Estes animais podem ser treinados para diferentes esportes, como adestramento e salto, sendo os mais comuns e até mesmo para provas regionalizadas, como vaquejada e três tambores (PEREIRA, 2016).
Os equinos por mais que possuem uma boa aceitação em relação a ordens que são dadas a eles, quando muito estressados podem adotar padrões comportamentais asselvajados, causando diversos danos ao local que são mantidos (VIEIRA, 2006). Ademais, as estereotipias quando muito presentes, provavelmente a tenham sido causadas por estresse ou tédio (KONIECZNIAK et al., 2014). Outros fatores predisponentes de estresse para os equinos são distúrbios alimentares, alterações climáticas, esforço físico acentuado, dor, aglomeração de animais, a presença ou não de cama, baias pequenas, agitação e o não contato com outros animais e com o homem (PARRA, 2008).
As mudanças comportamentais mais frequentes são as estereotipias, distúrbios sexuais e a agressividade (CAVASSIN et al., 2015). Por serem alterações comportamentais desenvolvidas principalmente em animais que ficam estabulados, os hábitos adquiridos podem ser vistos facilmente, como por exemplo, a aerofagia com ou sem apoio, dança do urso, meneios de cabeça, dentre outras sequencias de movimentos repetitivos (STEINER; ALBERTON; MARTINS, 2013). Dessa forma, todos os comportamentos que não são necessários para o animal se alimentar, beber água, coçar, limpar o corpo, se comunicar, ou que não tenha nenhuma razão fisiológica para ele, é considerado um estereótipo (REZENDE et al., 2006).
Com o passar do tempo, estudos relacionados ao comportamento dos equinos começaram ter maior força, visto que os criadores principiaram a se preocupar com a oferta de maior qualidade de vida para estes animais (PEREIRA, 2016). O conhecimento dos comportamentos dos animais selvagens ou mesmo animais domesticados mas mantidos soltos, são importantes para a análise do comportamento dos equinos que são mantidos confinados. A constatação das estereotipias é uma das formas para a avaliação referente ao bem-estar dos animais (CANAL JÚNIOR, 2015). Dito isso, de acordo com o Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção, para os equinos, há a necessidade de estarem isentos de fome e sede, desconfortos, medo e estresse, dor, ferimentos e patologias (MACHADO, 2011).
Entre tantas dificuldades relacionadas com o bem-estar animal, saber com certeza quando há sofrimento não é simples, sendo assim, estudos direcionados a esta área apresentam extrema importância, pois por meio deles pode-se saber o que os equinos gostam, quais situações podem ser mais complicadas e a partir disso poder tomar alguma decisão (MACHADO, 2011).
Os riscos para o desenvolvimento destes comportamentos variam de acordo com o quanto este animal é restrito a exercícios, alimentação e sua liberdade, uma vez que quanto mais restrições, maior a probabilidade do animal apresentar tais alterações comportamentais (MACHADO, 2011). O usual hábito da alimentação com concentrado, exerce um papel fundamental no desenvolvimento das estereotipias, pois assim ocorre uma diminuição considerável no tempo em que o animal precisa para saciar-se e consecutivamente o tempo em ócio aumentará, tendo em vista que o tédio está diretamente relacionado a estes comportamentos estereotipados (RIBEIRO et al., 2008). Entretanto não se sabe com certeza quais animais desenvolverão estereotipias, uma vez que existem fatores individuais específicos e estudos nesta área mostram que há a possibilidade da herdabilidade genética destes comportamentos, contudo, para que possam ser desenvolvidos, é necessário também fatores ambientais estimulantes no local em que o animal vive (KONIECZNIAK et al., 2014).
Na maioria das vezes a aerofagia é causada por tédio e desocupação e as demais alterações orais são causadas por falta de fibra na dieta e tédio (REZENDE et al., 2006). Além disso, animais que são submetidos a erros no manejo, onde ocorra falta de ocupação e não cumprimento das exigências dos animais, provavelmente irão desenvolver estereotipias, para tentar diminuir os sentimentos crônicos de frustração, ansiedade e estresse (TADICH; ARAYA, 2010). O estresse é descrito como as reações que acontecem em um organismo frente a injúrias sendo elas de natureza física, mental, infecciosa, e outras, que são capazes de danificar a homeostasia do corpo (KONIECZNIAK et al., 2014).
Figura 1 – cavalo com estereotipia aerofagia. Fonte: Arquivo pessoal (2020).
Uma vez que o animal desenvolva estas alterações comportamentais, mesmo ocorrendo mudanças no manejo e no seu ambiente para melhorar seu bem estar, ocorre a persistência dos movimentos estereotipados (MACHADO, 2011). Segundo Parra (2008), conforme a idade do animal aumenta, consequentemente a frequência e a intensidade dos estereótipos também aumentarão.
Independentemente da causa do desenvolvimento das estereotipias, uma vez que persistir pode-se tornar uma fixação (MACHADO, 2011). Para o tratamento destes comportamentos, o maior contato social entre os animais teve maior eficácia na diminuição da ocorrência quando comparado a projeção das baias maiores (PAGLIOSA et al., 2008). O enriquecimento ambiental com forrageiras para proporcionar uma dieta diferente e a soltura com outros animais pode ser um método para minimizar estes comportamentos (FARIAS, 2017). Entretanto, segundo Cavassin et al (2015) o enriquecimento ambiental para que aumente os estímulos para estes animais não são suficientes para cessarem estes comportamentos. Portanto, deve-se evitar ao máximo a ocorrência das estereotipias, porém, quando presente é necessário descobrir a causa e removê-la, sendo este o melhor tratamento (MACHADO, 2011).
Samuel Hahnemann é conhecido como o fundador da medicina homeopática (PARRA, 2008). Ele foi o primeiro a utilizar o termo homeopatia, originada do grego “homoios” com significado de iguais, e “pathos” sofrimento (BENEDETI, 2010). No Brasil a homeopatia foi introduzida em 1840 pelo médico francês Benoit-Jules Mure, médico seguidor dos ensinamentos de Samuel Hahnemann, e foi oficializada em 1918 (SANTOS, 2012). Esta especialidade médica foi reconhecida em 1980 pela Associação Brasileira Médica (AMB) e desde 1995 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) (GIORDANO, 2018).
Na prática da medicina homeopática, todos os sinais clínicos que são apresentados têm suma importância, uma vez que a escolha do medicamento homeopático depende totalmente deles (PARRA, 2008). Eles são vistos como a tentativa do organismo de alcançar novamente a homeostasia, mostrando suas formas de defesa (GIORDANO, 20018). Desta forma, são analisada as circunstâncias ao redor, a causa e o desenvolvimento da doença, a forma que o indivíduo adoece e suas características (PIRES, 2005). Para o desenvolvimento de alguma alteração ou enfermidade, existe a variação de acordo com a predisposição de cada indivíduo, onde não existe padrão entre os sinais clínicos, evolução e alterações físicas (GIORDANO, 2018).
Os sinais clínicos apresentados pelos animais são verdadeiros, uma vez que eles não possuem a capacidade de exagerarem na dor, não fingem os sentimentos, como os homens (CACHADO, 2012). Dentre a sintomatologia apresentada por um único animal, os sinais particulares e individuais são vistos como a característica do desenvolvimento da doença neste dado indivíduo (GIORDANO, 2018).
É evidente, que os medicamentos homeopáticos, independente da sua forma de ação, vão atuar na melhora das defesas naturais dos organismos, para que possa se preservar melhor (PIRES, 2005). A ação destes medicamentos pode ser em alterações físicas, emocionais, casos agudos ou crônicos e mentais, havendo apenas mudança na diluição, para que ocorra direcionamento para o tratamento (SOUSA, 2012).
Pode-se afirmar que com a administração da homeopatia, ocorrerá a união dos sinais clínicos com a causa da enfermidade, proporcionando um estímulo de cura maior ao organismo por meio da formação de novas enzimas para o bloqueio das danificadas, proporcionando assim novamente a homeostasia, normalizando o material genético (CACHADO, 2012). Dentre todos os sinais clínicos apresentados, os que mais chamam a atenção de homeopatas são os oriundos do emocional e psicológico, pelo fato de que as doenças físicas com caráter curativo, o estado mental do indivíduo é utilizado como indicador de se terá sucesso com o tratamento ou não (TEIXEIRA, 2006).
Devido ao uso de medicações extremamente diluídas ou doses mínimas, sendo o principal conceito desta medicina, é difícil por meio de estudos, mostrar sua verdadeira forma de ação (AMALCABURIO, 2008). Existe a teoria proposta por Hahnemann, em que os medicamentos proporcionariam a harmonia da energia vital, uma vez que quando doente, a energia vital do paciente estará desregulada. (NÓBREGA, 2015). De acordo com a teoria da memória da água, na preparação da homeopatia, a diluição da substância deixaria na água alterações que permanecem mesmo em altas diluições, e esta mudança seria um rearranjo nas moléculas da água, que manteriam a energia da substância utilizada como insumo ativo (NETTO, 2006).
Estes medicamentos são preparados a partir de substâncias de origem mineral, animal ou vegetal (Farmacopeia Homeopática Brasileira, 2011). As apresentações dos medicamentos homeopáticos podem ser na forma de glóbulos, tintura, tablete, pomadas e cremes, pós, líquidos, comprimidos ou até mesmo pílulas (ROCHA, 2019). Devem ser armazenados e mantidos fora de luz solar, temperaturas altas, odores e longe de aparelhos eletrônicos que emitam ondas eletromagnéticas, devido ao fato de que podem alterar a energia mantida pelo medicamento (PIRES, 2005; ROCHA, 2019).
Os medicamentos homeopáticos não possuem contraindicações, sendo uma ótima opção para a medicina veterinária, reequilibram a energia vital, proporcionam melhora no bem estar animal, além de serem mais econômicos (ROCHA, 2019). Além disso, a homeopatia deve ser vista como uma medicina individual, sendo assim, deve-se ficar atento a todos os sinais físicos e psicológicos que o paciente possa apresentar, para que seja proporcionada a cura para o paciente e não à patologia (SOUZA, 2002). Há também a possibilidade do uso de homeopatia de forma a proporcionar prevenção, como estratégia terapêutica, principalmente para animais de produção como vacas leiteiras (AMALCABURIO, 2008).
A prescrição de homeopatia para animais vai desde um medicamento único e individual para um animal especificadamente, medicamentos com foco em seus sinais clínicos de determinada patologia, até o uso de nosódios (AMALCABURIO, 2008). A homeopatia proporciona ao animal melhor qualidade de vida, pois reestabelece o equilíbrio e consequentemente a isso, melhora sua interação com as pessoas e animais que convivem com ele e com o ambiente que é mantido (GIORDANO, 2018).
Os equinos apresentam uma ótima resposta referente à homeopatia, com uma velocidade impressionante referente ao início dos seus efeitos (SOUZA, 2002). Samuel Hahnemann foi o primeiro médico que conseguiu curar seu cavalo, que apresentava um quadro de uveíte recorrente com o medicamento Natrum muriaticum (ROCHA, 2019).
Resultados e discussão
A fase do desmame dos potros, também é de extrema importância, pois há um estresse excessivo, uma vez que além de separados das éguas, é introduzida outra alimentação, água e são colocados em um grupo de animais diferentes (KONIECZNIAK et al., 2014). Segundo Konieczniak et al (2014), há estimativas que apontam que 34,6% dos equinos jovens mantidos em baias apresentam alguma das estereotipias. Segundo Parra (2008), o uso de antiácidos como forma de tratamento de potros com o comportamento de aerofagia, teve eficiência, diminuindo a duração da aerofagia.
Parra (2008), tratou 9 cavalos aerófagos com o medicamento homeopático Lycopodium, medicamento homeopático que promove efeitos comportamentais, em um período de 30 dias, sendo administrado a eles em uma seringa com 8 ml de água 5 gotas do medicamento. Foi evidenciado em seu experimento que 5 animais diminuíram a incidência do comportamento de aerofagia após o tratamento, 2 não obtiveram mudanças e 2 aumentaram a frequência (PARRA, 2008). Foi discorrido, que provavelmente os animais não desenvolveram o comportamento estereotipado pela mesma causa, podendo ser uma possível explicação para as diferentes respostas ao tratamento, uma vez que se deve levar em conta a individualidade de cada cavalo.
O Lycopodium na experimentação em homens saudáveis, provoca sintomas referentes à ansiedade, conforme o que está escrito na matéria médica e com o repertório homeopático, sendo assim como a aerofagia é um transtorno obsessivo compulsivo, pode-se confirmar que o Lycopodium causou uma diminuição na quantidade de vezes que os animais apresentaram este comportamento (PARRA, 2008).
No experimento realizado por Yarasmis et al. (2016), 17 cavalos de diferentes raças e idades, com comportamentos estereotipados, dentre eles caminhar constante e bater os pés, foram tratados com medicamentos homeopáticos na diluição de 15 CH, sendo escolhidos de acordo da manifestação comportamental de cada animal. Ignatia e Gelsenium foram administrados a todos os cavalos, e os medicamentos Stramonium, Phosphurus, Nux vômica, Pulsatilla, Hypericum, Lycopodium, Argentum nitricum, Staphysagria, Arsenicum album, Lachesis e Thuya occidentalis de forma separada, específico de cada tratamento. No primeiro mês do tratamento, foi notado diminuição dos comportamentos e no segundo mês foi constatada uma redução importante referente às estereotipias. Um dos animais que apresentavam a estereotipia de caminhar constante, foi completamente curada na quinta semana de tratamento, e em outros animais reduzida.
O ideal seria ao invés de tratá-los, investirem em prevenção, projetando as baias adequadamente, deixando os animais livres mais tempo em convívio com outros em piquetes, melhorar sua dieta oferecendo feno ou outro tipo de volumoso e exercitando mais vezes ao dia para que fiquem ocupados o maior tempo possível (STEINER; ALBERTON; MARTINS, 2013).
Considerações finais
Os medicamentos homeopáticos oferecem efeitos satisfatórios para o tratamento de comportamentos estereotipados, no entanto, para maximizar estes resultados, a lei da individualidade não deve ser esquecida. Sendo assim, a escolha do medicamento deve ser feita por um médico veterinário homeopata de forma correta e coerente com todos os dados contidos na Matéria Médica e pelos estudos realizados de forma pioneira por Samuel Hahnemann.
Deve-se levar em conta que juntamente com o tratamento homeopático, mudanças no manejo destes animais e no local em que são mantidos, como enriquecimento ambiental, maior contato entre os animais e vida social, alimentação e outras necessidades exigidas, contribuirão para melhores resultados referentes ao tratamento destes comportamentos pois influenciará diretamente no bem-estar. Pode-se associar outros tratamentos alternativos, como acupuntura, que obteve resultados positivos quando feita em animais que apresentavam comportamento de aerofagia.
Mesmo com estas possíveis metodologias para o tratamento das estereotipias, a prevenção nunca é desnecessária, uma vez que estes comportamentos estão diretamente relacionados ao bem estar.
Conflitos de interesse
Não houve conflito de interesses dos autores.
Contribuição dos autores
Ana Luíza Bernardes Pavan – ideia original, leitura e interpretação das obras e escrita; Gabriela Oliveira Lamarca d Silva – escrita e correções; Vitor Foroni Casas – orientação, correções e revisão do texto, Mariana Melo Ferreira Arantes – escritas e correções, Mazurquiedisk Nunes Rosa Júnior – correções.
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Recebido em 15 de março de 2022
Retornado para ajustes em 12 de maio de 2022
Recebido com ajustes em 20 de maio de 2022
Aceito em 16 de agosto de 2022