Revista Agrária Acadêmica
doi: 10.32406/v5n2/2022/66-81/agrariacad
Coxielose em ruminantes e a saúde pública no Brasil – revisão de literatura.
Coxiellosis in ruminants and public health in Brazil – literature review.
Eduardo Zache¹, Nicoly Nayana Marcom
¹, Jobson Filipe Cajueiro
², Maria Isabel Souza
², Alexandre Arenales
²*
¹– Programa de Residência em Sanidade de Ruminantes, Campus Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, Garanhuns, PE, Brasil. E-mail: eduardozache12@gmail.com, nicoly.marcom@gmail.com.
²– Clínica de Bovinos de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, Garanhuns, PE, Brasil. E-mail: jobson.filipe@gmail.com, m.isabel.souza.go@gmail.com, alexandre.arenales88@gmail.com.
*Autor correspondente
Resumo
Em humanos, a infecção por C. burnetii é conhecida como febre Q, em animais, o termo coxielose é considerado mais apropriado do que febre Q animal. Esta é uma zoonose de distribuição mundial causada por uma bactéria intracelular obrigatória gram-negativa da ordem Legionellales, que foi classificado como potencial agente de bioterrorismo. Os bovinos e pequenos ruminantes representam as fontes de infecção mais frequentes em humanos, sendo a inalação de aerossóis contaminados de produtos animais infectados a principal forma de transmissão. O presente estudo tem objetivo de realizar uma revisão de literatura sobre a coxielose, evidenciando-se a circulação de C. burnetii em animais e humanos no Brasil e a sua estreita relação à saúde pública, em função do seu caráter zoonótico, somada à importância econômica para a pecuária nacional.
Palavras-chaves: Abortamento. Coxiella burnetii. Bovinos. Endocardite. Zoonose.
Abstract
In humans, C. burnetii infection is known as Q fever, in animals the term coxiellosis is considered more appropriate than animal Q fever. This is a worldwide distribution zoonosis caused by a gram-negative obligate intracellular bacterium of the order Legionellales, which has been classified as a potential bioterrorism agent. Cattle and small ruminants represent the most frequent sources of infection in humans, with inhalation of contaminated aerosols from infected animal products being the main form of transmission. The present study aims to perform a literature review on coxiellosis, evidence of C. burnetii circulating in animals and humans in Brazil and its close relationship to public health, due to its zoonotic nature, in addition to its economic importance for national livestock.
Keywords: Abortion. Coxiella burnetii. Cattle. Endocarditis. Zoonosis.
Introdução
A infecção bacteriana por Coxiella burnetii em humanos é conhecida como febre Q, mas em animais, o termo coxielose é considerado mais apropriado (ANGELAKIS; RAOULT, 2010). Esta é uma zoonose de distribuição mundial, listada pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) (OIE, 2021). Os bovinos, ovinos e caprinos são considerados os principais reservatórios de transmissão para humanos (ANDERSON et al., 2013; ELDIN et al., 2017), e a eliminação de bactérias ocorre através das secreções corporais (produtos de parto, urina, fezes e leite), sendo os aerossóis contaminados o principal mecanismo de transmissão aos humanos (ANGELAKIS; RAOULT, 2010).
A coxielose geralmente é assintomática, porém pode causar distúrbios reprodutivos, como abortamento, fetos natimortos, endometrite, infertilidade e mastite (ELDIN et al., 2017). Já a febre Q apresenta-se de forma assintomática, sintomática aguda, focalizada persistente ou síndrome da fadiga (ELDIN; RAOULT, 2015).
O impacto na saúde pública no Brasil é pouco conhecido, principalmente por não ser uma doença de notificação obrigatória e pelo fato de muitos casos humanos serem diagnosticados equivocadamente (MARES-GUIA et al., 2016). Assim, o presente trabalho tem objetivo de esclarecer aspectos clínicos e epidemiológicos desta zoonose.
Materiais e métodos
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa, tendo como bases de dados o PubMed, Scielo, Scielo books, Science Direct, Periódico Capes, Google acadêmico, Repositório Alice Embrapa, Bases Biblioteca Digital de Teses e Dissertações, Biblioteca Virtual em Saúde e Biblioteca Virtual em Saúde – Medicina Veterinária e Zootecnia.
Revisão de literatura
Etiologia e patogênese
A bactéria C. burnetii é um cocobacilo com replicação intracelular, tendo os monócitos e macrófagos como as principais células-alvos (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; ELDIN et al., 2017), seu ciclo de desenvolvimento é bifásico, a forma metabolicamente ativa, a variante de células grandes, passa por diferenciação esporogênica (semelhante a esporulação), sendo convertida na forma inativa, a variante de células pequenas. Estas células hospedeiras infectadas rompem-se liberando variante de células pequenas, que pode ser dispersada no meio ambiente (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; MINNICK; RAGHAVAN, 2012).
A patogenicidade e virulência de C. burnetii dependem da via de infecção, (aerossol ou digestiva), quantidade do inóculo, cepa infectante, e fatores do hospedeiro: idade, sexo, imunossupressão ou gestação (ELDIN et al., 2017; RAOULT; MARRIE; MEGE, 2005).
Na replicação em células de hospedeiros imunocompetentes a C. burnetii apresenta variação antigênica. Na fase I, infecção natural de animais, artrópodes ou humanos, expressa uma forma virulenta com LPS de variação lisa que bloqueia as reações do sistema imunológico, sendo assim, altamente contagiosa (SEITZ et al., 2014). Enquanto a fase II é a forma não patogênica com LPS de variação rugosa de menor infectividade e acessíveis às reações do sistema imunológico (ANGELAKIS; RAOULT, 2011, 2010; MAURIN; RAOULT, 1999; SEITZ et al., 2014).
Diante desta variação antigênica, é possível diferenciar infecções primárias agudas, onde os anticorpos séricos são direcionados contra os antígenos da fase II, já os pacientes com evolução crônica da infecção possuem anticorpos séricos contra os antígenos da fase I mais intenso e da fase II (ANGELAKIS; RAOULT, 2011; MAURIN; RAOULT, 1999).
Epidemiologia
A C. burnetii pode afetar hospedeiros vertebrados e invertebrados: mamíferos domésticos e selvagens, aves e artrópodes (carrapatos). Os bovinos, ovinos e caprinos são considerados os principais reservatórios de transmissão em humanos (ELDIN et al., 2017; MAURIN; RAOULT, 1999; OIE, 2018).
Todos os animais infectados têm potencial de transmissão, a partir da eliminação de bactérias nas secreções corporais (produtos de parto, urina, fezes e leite), sendo o contato com aerossóis contaminados de líquido amniótico, placenta ou lã, o principal mecanismo de transmissão aos humanos (Fig. 1) (ANDERSON et al., 2013; ANGELAKIS; RAOULT, 2010). Podendo sobreviver por mais de um mês em carne fresca, de sete a dez meses na lã à temperatura ambiente e no leite cru por mais de 40 meses (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; ELDIN et al., 2017).
Devido à alta resistência, pode ser disseminada em correntes de vento por quilômetros, sendo documentados casos de Febre Q em pessoas sem contato com animais, e que viviam a mais de 30 quilômetros de propriedades com fonte de infecção em animais (TISSOT-DUPONT et al., 2004).
O risco de infecção através da ingestão de leite cru é menor em relação a inalação de aerossóis (GALE et al., 2015; MAURIN; RAOULT, 1999) e a dose mínima infectante para humanos através da via oral é desconhecida, porém, sugere-se que seja maior do que através da inalação (GALE et al., 2015). Bezerros que ingeriram leite contaminado com a bactéria, passaram a eliminá-la na urina e fezes, contribuindo para a disseminação ambiental (RODOLAKIS, 2009).
Apesar da C. burnetii ser detectada em diversas espécies de carrapatos (MANCINI et al., 2014), inclusive por detecção molecular em Rhipicephalus (Boophilus) microplus de bovinos e búfalos (GALAY et al., 2020), a possibilidade de transmissão para humanos é baixa, porém, pode atuar como vetor na transmissão aos animais pelas suas características ecológicas (DURON et al., 2015).
Figura 1 – Possíveis vias de transmissão da febre Q. Fonte: Adaptado de EPA Victoria (2020).
A febre Q é uma zoonose com ampla distribuição mundial, que está presente em todos os países do mundo, exceto na Nova Zelândia (ANDERSON et al., 2013; MAURIN; RAOULT, 1999). No entanto, a distribuição geográfica da coxielose não está bem estabelecida, devido à escassez de diagnóstico (ANGELAKIS; RAOULT, 2011).
Em um estudo recente de meta-análise, foi demonstrado uma ampla circulação de C. burnetii em nível de rebanho em fazendas de gado leiteiro, com prevalência mundial de 37,0% em amostras de leite a granel, utilizando reação em cadeia da polimerase (PCR) (RABAZA et al., 2021).
No Brasil, foram identificados altos títulos de anticorpos contra C. burnetti em bovinos com problemas reprodutivos, associados aos vírus da rinotraqueíte bovina e da diarreia viral bovina, N. caninum, Leptospira spp., T. gondii e T. vivax (ZANATTO et al., 2019).
A coxielose no Brasil foi identificada em regiões do sudeste, centro-oeste e nordeste, apresentando grande diversidade regional (Fig. 2).
Figura 2 – Distribuição geográfica de coxielose em animais, por unidade da federação, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados publicados e referenciados por este estudo.
A prevalência de C. burnetti em bovinos encaminhados para abate, provenientes de 54 cidades do estado de São Paulo, das 1515 amostras de soro colhido em nove matadouros, 23,8% (360/1515) foram positivas por ensaio de imunofluorescência (IFA) e destas 12,2% (44/360) dos soros foram qPCR positivos, indicando bacteremia e sugerindo infecção ativa ou recente. Além dos riscos aos trabalhadores dos matadouros pela exposição a aerossóis contaminados, há uma ampla distribuição de bovinos contaminados no estado (MIONI et al., 2020). Na tabela 1 estão elencados estudos de ocorrência de C. burnetti (coxielose) em animais no Brasil.
Tabela 1 – Ocorrência sorológica e molecular de Coxiella burnetii (Coxielose) em animais no Brasil.
Referência |
Estado do Brasil |
Contexto da publicação |
Método |
Positivos |
Valle et al. (1955) |
São Paulo |
Investigação em bovinos. |
Sorológico |
24/171 |
Riemann et al. (1975) |
Minas Gerais |
Gado zebu de abatedouros. |
Sorológico |
45/156 |
Mares-Guia et al. (2014) |
Rio de Janeiro |
Investigação em gato, cães, cabras, ovelhas e cavalos. |
Sorológico, Molecular |
9/30, 10/30 |
Mares-Guia (2015) |
Rio de Janeiro |
Investigação em animais domésticos (cães, gatos e ovelhas) e animais silvestres. |
Sorológico, Molecular |
6/94, 3/94 |
Rozental et al. (2017) |
Rio de Janeiro |
Animais silvestres capturados na Mata Atlântica. |
Molecular |
6/131 |
Guimarães et al. (2017) |
Piauí |
Caprinos e ovinos – detecção de anticorpos anti-R. rickettsii e anti-C. burnetii. |
Sorológico |
3/153 |
De Souza et al. (2018) |
Pernambuco |
Caprinos e ovinos em fazendas do município de Petrolina-PE. |
Sorológico |
18/815 |
De Oliveira et al. (2018) |
Alagoas |
Cabras leiteiras com falha reprodutiva e amostras de cotilédones de placentas. |
Sorológico, Molecular |
172/312, 2/23 |
Brasileiro (2018) |
São Paulo |
Bovinos de leite e corte. |
Sorológico |
176/231 |
Zanatto et al. (2019) |
Goiás/São Paulo/Minas Gerais/Mato Grosso do Sul |
Patógenos reprodutivos em bovinos. |
Sorológico |
14/102 |
Mioni et al. (2020) |
São Paulo |
Amostras de bovino coletadas em matadouros. |
Sorológico, Molecular |
360/1515, 44/360 |
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados publicados e referenciados por este estudo.
Nos últimos anos foram relatados diversos casos de febre Q nas regiões sudeste e nordeste do Brasil (Fig. 3). Em 2019 no estado de Goiás, foi realizada a identificação molecular de C. burnetii em leite cru de vaca sendo comercializado para consumo humano sem inspeção oficial ou pasteurização; das 112 amostras de leite cru analisadas por PCR quantitativo em tempo real (qPCR), o agente foi detectado em 3,57% (4/112) na concentração de 125 a 404 bactérias por mililitro (MIONI et al., 2019).
A primeira detecção molecular de C. burnetii em queijo artesanal brasileiro ocorreu no estado de Minas Gerais, fabricados a partir de leite cru bovino; das 53 amostras de queijo, cinco (9,43%) foram positivas para o DNA da bactéria, cada uma proveniente de uma das respectivas agroindústrias selecionadas aleatoriamente (ROZENTAL et al., 2020). Estima-se que do total de 16,2 toneladas de queijo pronto para consumo humano (produzido com leite cru) diariamente, 1,62 toneladas estão contaminadas com C. burnetii (ROZENTAL et al., 2020).
Figura 3 – Distribuição geográfica de febre Q em humanos, por unidade da federação, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados publicados e referenciados por este estudo.
Em uma pesquisa do perfil epidemiológico de indivíduos sorologicamente reagentes entre 2011 a 2017, a partir de dados do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) do Ministério da saúde no Brasil: verificou-se que o Rio de Janeiro foi o estado com maior frequência de amostras positivas (72,62 % [50/67]), sendo em 2016 maior número de casos (53,73 % [36/67]), a maioria dos reagentes foram homens (83,58 % [56/67]) em idade adulta (38,8% [21-30 anos]), residentes em zona urbana (46,26 % [31/67]) (NEVES et al., 2021).
Na tabela 2 estão elencados estudos de ocorrência de C. burnetti em humanos no Brasil.
Tabela 2 – Ocorrência sorológica e molecular de Coxiella burnetii (Febre Q) em humanos no Brasil.
Referência |
Estado |
Contexto da publicação |
Método |
Positivos |
Brandão; Vale; Christovão (1953) |
São Paulo |
Funcionários de frigorífico e fábrica de vidro. |
Sorológico |
10/643 |
Valle et al. (1955) |
São Paulo |
Tratadores de gado. |
Sorológico |
5/71 |
Ribeiro-neto; Nikitin; Ribeiro (1964) |
São Paulo |
Ordenhadores e tratadores de rebanhos bovinos. |
Sorológico |
17/200 |
Riemann et al. (1974) |
Minas Gerais |
Pessoas associadas à Faculdade de medicina veterinária. |
Sorológico |
48/219 |
Riemann et al. (1975) |
Minas Gerais |
Trabalhadores de abatedouros. |
Sorológico |
42/144 |
Costa (2005) |
Minas Gerais |
Indivíduos sadios da região de Juiz de Fora. |
Sorológico |
16/439 |
Da Costa; Brigatte; Greco (2005) |
Minas Gerais |
Pessoas saudáveis de uma comunidade rural. |
Sorológico |
17/437 |
Da Costa; Brigatte; Greco (2006) |
Minas Gerais |
Pacientes febris entre 2001 – 2004. |
Sorológico |
16/726 |
Siciliano et al. (2006) |
São Paulo |
Pacientes com endocardite. |
Sorológico |
1/61 |
Siciliano et al. (2008) |
São Paulo/Bahia |
Caso de endocardite e com desfecho fatal. |
Sorológico |
1/1 |
Lamas et al. (2009) |
Rio de Janeiro |
Pacientes HIV positivos. |
Sorológico |
1/125 |
Lemos et al. (2011) |
Rio de Janeiro |
Caso de febre de mais de 40 dias, associada à trombocitose. |
Molecular |
1/1 |
Rozental et al. (2012) |
Rio de Janeiro |
Paciente com pneumonia grave. |
Molecular |
1/1 |
Lamas et al. (2013) |
Rio de Janeiro |
Pacientes que realizaram cirurgia cardíaca – endocardite. |
Molecular |
1/51 |
Mares-Guia et al. (2016) |
Rio de Janeiro |
Casos suspeitos de dengue. |
Molecular |
9/272 |
Lemos et al. (2018) |
Rio de Janeiro |
Cadetes em treinamento para a Academia Militar – RJ. |
Sorológico, Molecular |
5/5, 1/5 |
Rozental et al. (2018) |
Rio de Janeiro |
Pessoas que injetam drogas, uma avaliação retrospectiva. |
Sorológico |
28/300 |
Meurer et al. (2021) |
Minas Gerais |
Pacientes com suspeita de dengue. |
Sorológico, Molecular |
25/437, 0/437 |
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados publicados e referenciados por este estudo.
Aspectos clínicos
A coxielose, geralmente, é assintomática (ANGELAKIS; RAOULT, 2010). Na fase aguda, a bactéria pode ser encontrada no sangue, pulmão, baço e fígado, e nos casos de evolução crônica ocorre eliminação persistente da bactéria nas fezes e urina (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; MAURIN; RAOULT, 1999).
Os ruminantes domésticos como principais reservatórios, são de difícil identificação e controle, pois geralmente podem liberar a bactéria sem sintomatologia clínica (ELDIN et al., 2017) e as manifestações clínicas mais importantes são os distúrbios reprodutivos, como abortamento, fetos natimortos, endometrite, infertilidade e mastite (ELDIN et al., 2017; TISSOT-DUPONT; RAOULT, 2008).
Em bovinos, o agente foi isolado de animais com endocardite vegetativa valvar crônica, onde 70% dos soropositivos para C. burnetii apresentaram PCR positivo em 25% das amostras de válvula com endocardite, porém, as lesões não diferiam entre bovinos infectados e não infectados pelo agente, devido a bactérias semelhantes a Trueperella pyogenes também estarem presentes nas válvulas inflamadas (AGERHOLM et al., 2017).
A febre Q pode se apresentar de forma assintomática, sintomática aguda, focalizada persistente e síndrome da fadiga (ELDIN; RAOULT, 2015), portanto há grande variação nas manifestações clínicas, de forma que o diagnóstico só pode ser feito por testes seriados. Nas infecções primárias, aproximadamente 60% dos casos são assintomáticos e apenas 4% destes necessitam de hospitalização (ANGELAKIS; RAOULT, 2010).
Em humanos o quadro clínico mais frequente em infecções agudas é uma febre alta abrupta de 39,0 a 40,0 ºC, que se mantém por 4 dias e na média de duas semanas retorna à normalidade, porém, em pacientes não tratados pode durar até 57 dias, acompanhada de cefaleia, fadiga e mialgia; dependendo do inóculo de C. burnetii, e o período de incubação de aproximadamente 20 dias, a forma típica da doença pode não ocorrer, devido à grande variabilidade de pessoa para pessoa, que podem desenvolver febre autolimitada, pneumonia atípica, hepatite, complicações cardíacas (pericardite, miocardite e endocardite) e outras alterações raras, com sinais dermatológicos, neurológicos e da medula óssea (ANGELAKIS; RAOULT, 2011; ELDIN et al., 2017).
Diagnóstico
Os principais métodos sorológicos utilizados na medicina veterinária são: ensaio imuno-enzimático (ELISA) e reação de imunofluorescência indireta (RIFI) devido à sua maior sensibilidade (OIE, 2018). No entanto, os mesmos podem ser usados para identificar rebanhos infectados, mas não é possível detectar quais animais estão eliminando C. burnetti (NIEMCZUK et al., 2014).
Animais soronegativos podem eliminar a bactéria ativamente, em contrapartida animais que tiveram exposição ao agente podem soroconverter, mas não necessariamente eliminam a bactéria (ANDERSON et al., 2013; BERRI et al., 2001). Portanto, o teste sorológico não é um método confiável para identificar animais como potencial fonte de transmissão para outros seres vivos (ANDERSON et al., 2013). O método de ELISA para estudos sorológicos e PCR para detecção de patógenos, apresentam bom potencial diagnóstico (NIEMCZUK et al., 2014).
Em humanos a inespecificidade dos sinais clínicos, torna o diagnóstico clínico difícil (ANDERSON et al., 2013; ANGELAKIS; RAOULT, 2010); e pelo fato do agente não crescer em cultura laboratorial padrão, utilizam-se ferramentas de diagnóstico indireto específicas, como a sorologia. A detecção de DNA de C. burnetii por PCR é possível em amostras de sangue, válvulas cardíacas e outros tecidos, com vantagem de detectar a infecção antes da soroconversão de pacientes com infecção primária (ELDIN et al., 2017).
Na rotina de diagnóstico o cultivo de C. burnetti não é recomendado, pois o processo é difícil, demorado e perigoso, requerendo laboratórios de biossegurança nível 3 (BSL-3); destacando-se o fato de que uma cultura negativa não exclui uma infecção pelo agente (ANDERSON et al., 2013).
Na análise histopatológica das infecções primárias são observados granulomas em biópsia hepática (ELDIN et al., 2017; LEE et al., 2012; MAURIN; RAOULT, 1999). Na infecção persistente, a análise patológica das válvulas cardíacas e tecido vascular para os quais há suspeita de C. burnetti, pode revelar fibrose significativa, mineralização, inflamação e vascularização leves (ELDIN et al., 2017; LEPIDI et al., 2003).
Com manifestações clínicas semelhantes às de outras doenças infecciosas ou não infecciosas, como dengue, influenza, leptospirose, entre outras, comprovam que a febre Q normalmente é negligenciada. Desta forma, é recomendado que seja incluída na lista de diagnósticos diferenciais de doenças gripais, principalmente em pacientes com fator de risco para febre Q focalizada persistente e com histórico epidemiológico compatível (MARES-GUIA et al., 2016).
Tratamento
O tratamento de animais com antimicrobianos, na tentativa de controlar o abortamento e a eliminação da C. burnetii no ambiente não possui eficácia comprovada, não sendo indicado o uso para controle ou tratamento da Coxielose (PLUMMER et al., 2018). O uso do antimicrobiano oxitetraciclina em bovinos de leite, não foi eficiente na diminuição da eliminação da bactéria pelo leite (TAUREL et al., 2014).
A progressão da febre Q aguda em humanos costuma ser leve e o tratamento é prescrito conforme a apresentação clínica; geralmente ocorre cura da pneumonia em 15 dias sem tratamento. A confirmação do diagnóstico via sorologia normalmente ocorre após 2 a 3 semanas do início da doença, sendo recomendada a terapia empírica com antimicrobianos em pacientes gravemente enfermos, em consequência ao potencial patogênico com o atraso no diagnóstico (ANGELAKIS; RAOULT, 2011).
Devido às diferentes formas de apresentação da doença, não há apenas uma estratégia de tratamento, pois cada situação requer protocolo e acompanhamento específico. Nas infecções primárias deve ser realizada a triagem de fatores de risco para complicações, objetivando-se a prevenção de infecções focalizadas persistentes, a partir da escolha de um tratamento profilático. O diagnóstico precoce de endocardite e infecções vasculares são importantes para o início imediato da antibioticoterapia adequada e de intervenção cirúrgica se necessário (ELDIN et al., 2017).
Prevenção e controle
A infecção por C. burnetii, é caracterizada como uma doença que oferece risco para pessoas com contato direto e indireto com ruminantes domésticos: fazendeiros, médicos veterinários, trabalhadores de matadouros, pessoas que manipulam ou processam produtos de origem animal, e principalmente profissionais da saúde que têm contato com pessoas, animais ou amostras de pacientes suspeitos da infecção (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; ELDIN et al., 2017).
A utilização de vacina de células inteiras inativadas por formalina (Q-Vax) produzida e licenciada na Austrália é considerada segura para humanos com eficácia de 98% (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; CHIU; DURRHEIM, 2007). Esta vacina não está disponível no Brasil.
Como todas as zoonoses, o controle da enfermidade nos animais influenciará diretamente nos níveis observados em humanos (ANGELAKIS; RAOULT, 2010). Diversos cuidados devem ser tomados para evitar a enfermidade na produção de animais, como inserção de novos animais provenientes de rebanhos livres de febre Q. Os partos devem ser em locais restritos com boas práticas de higiene principalmente da parturiente, instalações e materiais, sem induzir aerossóis. A placenta, fetos mortos e produtos de abortamento devem ser incinerados ou enterrados, de modo a evitar ingestão por carnívoros domésticos e selvagens, que podem disseminar a doença (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; RODOLAKIS, 2009).
A vacina de fase I inativada pode prevenir o abortamento em animais, sendo utilizada para evitar a disseminação de enfermidades em rebanhos infectados ou rebanhos livres próximos (ANGELAKIS; RAOULT, 2010; RODOLAKIS, 2009).
Vigilância em saúde
A febre Q é uma doença de amplo espectro causada por um patógeno complexo, que necessita de uma abordagem dinâmica para o seu controle (MORI; ROEST, 2018). Na Holanda, a epidemia surgiu a partir de um estado endêmico, decorrente de graves problemas de abortamento em cabras e ovelhas leiteiras (ROEST et al., 2011).
O impacto da febre Q na saúde pública no Brasil é pouco conhecido, principalmente por não ser uma doença de notificação compulsória e pelo fato de muitos casos humanos serem possivelmente diagnosticados equivocadamente (MARES-GUIA et al., 2016). Assim, essa zoonose deve receber maior atenção, devido ao fato de o seu agente etiológico ter sido frequentemente identificado no Brasil durante a última década (MARES-GUIA et al., 2016).
Considerações finais
A coxielose é uma doença de grande importância pois geralmente é assintomática e de difícil diagnóstico. E a febre Q uma doença de alta infectividade, com quadro clínico semelhante ao de outras doenças febris agudas, sendo esta de grande importância para saúde pública, e quando não diagnosticada e tratada da forma adequada em alguns casos pode evoluir para quadros fatais. Por ser um patógeno de alta resistência e estabilidade no ambiente, dispersando-se pelo vento por pelo menos 30 km de distância e a soroprevalência em diversas regiões brasileiras alertam para a disseminação e possíveis surtos, em animais e humanos.
Devido às dificuldades e os custos do diagnóstico, o controle e prevenção são de grande importância, bem como, o conhecimento de médicos veterinários, médicos, profissionais da saúde e produtores rurais da circulação do agente em território nacional, resultando em interdisciplinaridade seguindo os princípios de Saúde Única.
Referências bibliográficas
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ANDERSON, A. et al. Diagnosis and management of Q fever – United States, 2013: Recommendations from CDC and the Q Fever Working Group. MMWR Recommendations and Reports, v. 62, n. 1, p. 1-30, 2013. https://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/rr6203a1.htm
ANGELAKIS, E.; RAOULT, D. Emergence of Q fever. Iranian Journal of Public Health, v. 40, n. 3, p. 1-18, 2011. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23113081/
ANGELAKIS, E.; RAOULT, D. Q fever. Veterinary Microbiology, v. 140, n. 3-4, p. 297-309, 2010. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19875249/
BERRI, M. et al. Relationships between the shedding of Coxiella burnetii, clinical signs and serological responses of 34 sheep. The Veterinary Record, v. 148, n. 16, p. 502-505, 2001. https://bvajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1136/vr.148.16.502
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Recebido em 25 de abril de 2022
Retornado para ajustes em 1 de junho de 2022
Recebido com ajustes em 2 de junho de 2022
Aceito em 3 de junho de 2022